quarta-feira, 8 de abril de 2015

Sobre teledramaturgia: Não adianta querer fazer revolução ideológica e misturar conceitos que não são tratados com o devido respeito nem mesmo na vida real


Não sou cem por cento saudosista ou nostálgica, mas, de vez em quando bate, sim, uma saudade de um tempo em que assistir a novelas era uma espécie de “viagem” em que buscávamos ao menos na ficção um momento de sonhar com uma realidade que poderia não ser a ideal, mas minimamente mais compatível com aquilo que almejávamos atingir também fora do ar. O que me levou a escrever sobre esse tema é o que tenho visto no ar em “Babilônia”. Não é questão de censura. Que os novelistas continuem tendo liberdade para escrever o que e da forma que quiserem. Mas os índices de audiência apontam o tempo todo que já vivemos épocas de histórias melhores. E não adianta jogar a culpa pelo desempenho insatisfatório no ibope às novas tecnologias, dizer que hoje tem internet, TV por assinatura etc e tal. Por um tempo a internet pode ter roubado muita audiência da televisão. Mas, a partir das redes sociais isso também mudou. O que mais se vê hoje são comentários sobre os programas televisivos sendo feitos nas redes sociais simultaneamente enquanto eles estão sendo exibidos. Com direito a fotos feitas diretamente do vídeo. Assim como a TV por assinatura tem um nicho próprio que já não abastecia os canais abertos antes.

Não tem a ver com modernidade. Se assim fosse, os dramalhões mexicanos não seriam mais exibidos e reprisados à exaustão no SBT. Tem a ver com uma linha dramatúrgica coerente com o gênero folhetim, mantendo a qualidade e não desrespeitando totalmente o telespectador que, esse sim, é o verdadeiro termômetro de qualquer novela. Não adianta vir querer fazer revolução ideológica e misturar numa mesma trama uma parafernália de elementos e conceitos que ainda não encontraram o melhor caminho de serem tratados com o devido respeito nem na vida real, como acontece em “Babilônia”. Não acho que a ficção tenha que fechar os olhos à realidade. Em qualquer estudo mais aprofundado que se faça do gênero, lá no seu início fala-se e exalta-se a importância da função social que, espera-se, não lhe falte. Essa tal função social, no entanto, não deve ser confundida com uma parafernália de temas, como personagens que sofrem preconceitos, seja racial, social ou de condição sexual, misturados a tipos marginalizados, psicopatas e de caráter duvidoso.  Quando o enredo se restringe ou dá evidência demasiada a essas tramas vira um caldeirão em que fica difícil identificar a história central. Se é que ela existe.

O resultado dessa forma que se acha irreverente de querer “escrachar na cara da sociedade” ou de “escrachar na cara da família tradicional” através de uma novela pode ter como resposta do público um simples gesto: o de trocar de canal. É a liberdade de cada um agir e a liberdade do outro reagir. Que esses temas sejam tratados, sim, com liberdade, mas também com bom senso, e que não se tornem protagonistas de todo o enredo. Ou, acabarão sendo engolidos e regurgitados pelos noveleiros de plantão que realmente esperam assistir a uma história que retrate as suas realidades, mas traga inserida nela momentos lúdicos e de emoção, porque é para isso também que servem os folhetins. Ou não?

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