segunda-feira, 12 de junho de 2017

“Pega Pega”: Com ação, humor e romance, desafio da novela será manter o mesmo ritmo mostrado nos primeiros capítulos


Em uma semana no ar, “Pega Pega”, nova novela das sete da Rede Globo, conseguiu criar no telespectador aquela expectativa que deve haver em todo folhetim sobre o que acontecerá no próximo capítulo. O ritmo ágil, tanto nas ações quanto nos diálogos, não ficou reduzido apenas à estreia na terça-feira (6), estendendo-se nos dias seguintes. Na espinha dorsal da sinopse de Claudia Souto, estreando como autora, está o roubo de 40 milhões de dólares, valor pago por Eric Ribeiro (Mateus Solano) a Pedrinho Guimarães (Marcos Caruso) na compra do luxuoso hotel Carioca Palace. As demais tramas se desenrolam a partir da investigação policial do furto, que acontece durante o baile de aniversário da neta de Pedrinho, Luiza (Camila Queiroz). Encabeçando a operação criminosa, que remete ao filme “Onze Homens e Um Segredo”, está o concierge Malagueta (Marcelo Serrado), o garçom Júlio (Thiago Martins), o recepcionista Agnaldo (João Baldesserini) e a camareira Sandra Helena (Nanda Costa). Sem poder gastar o dinheiro para não levantar suspeitas, os quatro continuam trabalhando no Carioca Palace, torcendo para que o hotel decrete falência e todos sejam demitidos.

À primeira vista, talvez pelo humor rápido e requintado, a novela traz uma vaga lembrança dos estilos de Silvio de Abreu e de Gilberto Braga. O equilíbrio na mistura do núcleo rico com o pobre, com personagens medianos de ambos os lados, não deixa a trama cair em um menos é mais às avessas. E a ponte entre os dois universos está justamente no quarteto de ladrões de primeira viagem, em uma interpretação impecável de Marcelo Serrado, João Baldisserini, Thiago Martins e Nanda Costa. Está perfeita a sintonia do tempo cênico dos atores, cada um dando a dose certa de humor tanto nas sequências de ação quanto nas de drama. Marcos Caruso é, sem dúvida, o maior protagonista da história encarnando um milionário falido com uma maestria impecável. Uma proeza própria do veterano, que igualmente surpreende como Seu Perú na “Escolinha do Professor Raimundo – Nova Geração”. Embora convincente como Eric, Mateus Solano precisa cuidar para não repetir trejeitos do igualmente milionário que fez em “Amor à Vida”, como aconteceu na “corridinha” que Eric deu no capítulo de sexta-feira, que remeteu no ato aos seus tempos de Félix na novela de Walcyr Carrasco, exibida em 2013. Já Camila Queiroz enfrenta seu primeiro desafio de interpretar uma jovem comum, sem o erotismo da Angel, que marcou sua estreia em “Verdades Secretas”, e sem a composição de apelo popular da Mafalda, a caipirinha de “Êta Mundo Bom”. Conquistar o público como a mocinha boazinha, sem se tornar a boba e chata da vez, pode ser bem mais difícil do que atrair paixões fazendo a vilã.

Correndo atrás de destaque nas tramas paralelas está Vanessa Giácomo, que mostra ter feito um bom laboratório no treinamento para viver a investigadora Antônia, mas precisa aparar arestas na dramatização para não ficar over. Afinal, ela não está em um episódio da série “CSI”. O mesmo serve para Mariana Santos que, apesar de estar indo bem como Maria Pia, a assessora pessoal apaixonada por Eric, está balançando em uma linha muito tênue entre o humor e o drama. A atriz não pode se esquecer de que agora está em uma novela e não em um humorístico como o “Zorra” ou participando da bancada de jurados do “Amor e Sexo”.

Por outro lado, os jovens Valentina Herszage e Jaffar Bambirra estão mostrando uma segurança e uma naturalidade em cena que só exalta seus trabalhos como estreantes. Ela, no papel de Bebeth, a filha de Eric que tem surtos psicóticos decorrentes de um trauma de infância desencadeado no acidente de carro em que sua mãe morreu; e ele, como Márcio, o manipulador de marionetes de uma família circense. Tanto Valentina quanto Jaffar mostram uma imagem forte no vídeo, independentemente dos efeitos de computação gráfica que animam o canguru, um boneco do mundo teatral de Marcio, um amigo ilusório na mente de Bebeth.

O desafio a partir de agora é não deixar que, após toda a movimentação em torno do assalto, a história caia na mesmice de uma investigação que se estende por meses até o fim da novela. Se quiser manter o bom ritmo de sua antecessora, “Rock Story”, a autora terá que providenciar soluções rápidas para esse assalto, que desencadeiem novas investigações para casos inéditos, mesmo que esteja tudo interligado. Ou cairá no risco de perder tempo para o próprio tempo.