terça-feira, 11 de abril de 2017

“Big Brother Brasil”: Pedido de expulsão de Marcos feito pela polícia reflete a falta de responsabilidade dos realizadores do reality


A expulsão do médico Marcos Harter do “Big Brother Brasil” nessa segunda-feira (10) pode não ter sido a solução que desejava a direção do programa, mas certamente foi a única a ser tomada diante da proporção que tomou o comportamento do participante, ameaçando inclusive a imagem da Rede Globo. É preciso deixar claro que a medida extrema só foi tomada quando a opinião pública, que felizmente não é formada apenas por fãs clubes que se deixam iludir por edições manipuladas, resolveu se mobilizar e pedir um Basta através das redes sociais e de denúncias feitas diretamente à Delegacia de Mulheres do Rio de Janeiro. A mobilização de artistas também pode ter ajudado, mas o mérito maior deve ser dado àquelas pessoas comuns que não se limitaram a fazer hastag e realmente denunciaram às autoridades competentes a violência doméstica que estava sendo transmitida ao vivo pelo Pay-Per-View do programa. Ao tomar as medidas cabíveis, a polícia apenas executou aquilo que a Globo e os fanáticos que votavam no casal deveriam ter feito antes.

O ensaio de uma violência dissimulada estava sendo percebido há dias, desde quando Emilly mostrou hematomas nos braços causados por beliscões de Marcos. E tomou proporções maiores na manhã de segunda-feira, há exatamente uma semana, quando o médico, visivelmente desequilibrado, foi para cima de Marinalva, sem o menor pudor de ser um homem tentando intimidar uma mulher deficiente; foi agressivo com Ieda, desrespeitando uma senhora de 70 anos, e quis tirar Ilmar do eixo, forçando uma conversa improvável sobre questões que já tinham exaustivamente sido debatidas. O médico inclusive cometeu a inconfidência de acusar no ar o advogado indigenista de ter sido procurado pela polícia na casa por estar com a pensão alimentícia do filho. O que foi desmentido na hora pelo apresentador Tiago Leifert.

Mas Marcos e Emilly eram sinônimos de lucro, com recordes de votação a cada paredão que um dos dois estava, e por isso o casal era poupado. E a Globo simplesmente fechou os olhos para o comportamento doentio do médico rico e bem sucedido de 39 anos com a jovem de 20, pobre e egocêntrica, que oscilava entre contar histórias tristes de miséria e de arrependimento por ter maltratado a mãe - que morreu um mês antes de ela entrar no programa - ou se vangloriar de já ter levado uma vida de ostentação ao lado de ex-namorados.

O momento, no entanto, não é de querer identificar traços do perfil psicológico de cada um dos dois. Essa é uma responsabilidade que cabe a profissionais competentes nessa área e só diz respeito aos envolvidos e seus familiares. A questão que precisa ser levantada e debatida é até que ponto as dezenas ou centenas de pessoas envolvidas na realização do “Big Brother Brasil” estão realmente preparadas para assumirem a responsabilidade que um reality show nesse formato exige? Porque não é apenas o psicológico dos participantes confinados na casa que pode ficar abalado, aqueles que trabalham nos bastidores acabam também vivendo uma espécie de regime de semiconfinamento. E podem também ultrapassar o limite que deve haver no relacionamento entre eles e os verdadeiros protagonistas do show, que são aqueles que estão diante das câmeras. É preciso que efetivamente exista um Grande Irmão que não permita que a função “vigiar” seja confundida com “manipular”, “direcionar” ou “privilegiar”.

A mudança de apresentador também fez alguma diferença, já que Tiago Leifert ainda não tem a manha que Pedro Bial atingiu de brincar sem perder a rédea do jogo. Tiago precisa parar de comparar BBB com Zero1. Ele não está lidando com games virtuais, mas sim com pessoas reais. Outro ponto que surpreendeu nessa décima sétima temporada é que houve uma espécie de afrouxamento em relação a muitas regras que eram severamente cumpridas nos anos anteriores. Uma delas em relação à falta de maior rigor sobre não permitir a interação entre participantes e integrantes da “produção”. O que para o público evidenciava uma forma de favorecer alguns dos confinados com informações passadas “através das paredes” ou “por trás dos espelhos”, para a direção era apenas uma gracinha que ganhou até clipe na edição do programa ao vivo. No caso de Marcos, é possível até supor que os Criadores contribuíram para que ele virasse a Criatura que se tornou, já que houve um excesso de proteção e de privilégios dados ao médico. O mesmo pode servir para Emilly, que “cresceu” no jogo de uma forma questionável ao ser poupada nas edições noturnas que não mostravam muitas de suas atitudes condenáveis, vistas apenas no Pay-Per-View ou no Globo Play.

Enfim, espera-se que para a próxima temporada, para a qual já estão abertas as inscrições, a direção da emissora esteja mais atenta à liberdade que delega à direção do programa e que esta também tenha um pulso mais firme ao cobrar mais seriedade e responsabilidade de todos os que estão sob seu comando. Aí por “produção” entenda-se produtores, editores, câmeras, assistentes, ninjas, dames, equipe técnica, enfim todos os que trabalham direta ou indiretamente na execução do programa. O produto é de entretenimento, mas nem por isso deve deixar de respeitar sua função social e muito menos deve esquecer que a saúde física e mental das pessoas não é brinquedo.


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