sábado, 25 de junho de 2016

“Êta Mundo Bom!”: Novela foge do padrão de focar em par romântico central e dá leveza a situações que poderiam ser dramáticas se não fossem cômicas


Embora ambientada no século XX, entre os anos 40 e 50, “Êta Mundo Bom!” está longe de ser uma novela que coloca o romantismo como fio condutor costurado por um par romântico central da história, como acontece na maioria dos folhetins, principalmente os de época. Talvez esteja aí um dos grandes trunfos do sucesso que vem fazendo a novela das seis da Rede Globo, escrita por Walcyr Carrasco e Maria Elisa Berredo. É claro que a assinatura de Jorge Fernando na direção-geral também colabora em grande parte na execução de situações romanticamente ou até mesmo dramaticamente cômicas criadas pelos autores e brilhantemente interpretadas por todo elenco.

Uma frase dita por Candinho (Sérgio Guizé), o protagonista, no capítulo dessa sexta-feira (24) para Anastácia (Eliane Giardini) após ela perder toda sua fortuna e não ter mais como dar luxo ao filho perdido bebê e reencontrado já adulto, foi emblemática: “A mãe cuida do filho, e o filho cuida da mãe”, resumiu Candinho, docemente resignado. Essa declaração selou de vez que essa é uma novela que não busca um par romântico, mas que trata de relações de amor que podem ser incondicionais, ou não.

Aí entende-se por que o amor entre Candinho e Filomena (Débora Nascimento) nunca foi o centro das atenções. Filó, como é conhecida, até se envolveu com Ernesto (Eriberto Leão) antes de engravidar de Candinho. Assim como Candinho ficou noivo de Sandra (Flávia Alessandra). E, apesar de tantos desencontros, o amor dos dois caipiras, mesmo à distância, continuou imune a tudo que passaram na cidade. Porém, nem por isso se tornou mais importante do que as demais tramas paralelas.

Na verdade, Gerusa (Giovanna Grigio) e Osório (Arthur Aguiar) formam o único par romântico clássico. Assim mesmo, o sentimento que une os dois jovens causa mais comoção pelo fato de a moça sofrer de leucemia, uma doença que naqueles tempos não contava com tratamentos muito eficazes. Bem diferente dos envolvimentos amorosos de Sandra, a grande vilã da história, e Bianca (Priscila Fantin), que colecionam amantes usados em seus planos ambiciosos de ficarem ricas.

Nessa rebarba o que diverte mesmo são as cenas daquelas paixões improváveis ou desprovidas de preocupação com grandes romantismos. Como acontece com Mafalda (Camila Queiroz), a jovem que, apesar de ser disputada pelo roceiro Zé dos Porcos (Anderson Di Rizzi) e o almofadinha Romeu (Klebber Toledo), só pensa mesmo é em saciar sua curiosidade de conhecer o “cegonho” dos moços. Assim como sua Tia Eponina (Rosi Campos), que desencalhou ao se casar com o Dr. Pandolfo (Marco Nanini), mas, para desespero da jovem-senhora-virgem, o “cegonho” do noivo não consegue “levantar voo” na lua-de-mel.

Essa leveza ao brincar com o que poderia se transformar em algo muito sério se fosse visto apenas pela lente do dramalhão, aliada ao esmero e capricho na cenografia, direção de arte, caracterização das personagens e produção em geral, com certeza, garantem uma audiência qualificada para mais uma novela que veio transformar a faixa das seis em horário nobre.


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http://tvindependentebyelenacorrea.blogspot.com.br/2012/09/lado-lado-texto-ousado-faz-novela-de.html