segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

“Felizes Para Sempre?”: Autor mexe com o imaginário do público ao expor questões tabus, mas que fazem parte da realidade


Sexo, drogas, traições, traumas, segredos, maracutaias... Com esses ingredientes, a primeira semana de “Felizes Para Sempre?”, minissérie da Rede Globo que estreou na segunda-feira passada, 26 de janeiro, obteve uma audiência tão satisfatória que a emissora promoveu até uma maratona no fim de semana, exibindo os cinco episódios na íntegra através de seu site oficial. A história, de autoria de Euclydes Marinhos, é uma releitura de “Quem Ama Não Mata”, outra série escrita pelo mesmo autor e exibida em 1982 em 20 capítulos. Mas, se na anterior os conflitos atingiam cinco casais distintos, agora eles são quatro e fazem parte de uma mesma família. Alguns temas são recorrentes, como esterilidade, falta de diálogo, mentiras, violência... A forma de retratá-los é que mudou, seguindo os novos tempos e a maneira como cada um lida com suas questões íntimas. E o autor está mexendo com o imaginário do público ao expor questões que poderiam ser consideradas tabus, se não fizessem elas parte da realidade moderna.

Prevista inicialmente para ser ambientada em Niterói (RJ), o autor acertou ao levá-la para Brasília (DF), cenários pouco explorados e que só corroboram para as tramas em que prevalece a sede de poder em todas as esferas. Enrique Diaz, no papel de Cláudio, o rico empresário envolvido em negociatas políticas, vive um momento singular em sua trajetória na televisão, marcada até então por personagens na maioria das vezes apenas sérios ou mal encarados e que não lhe permitiam discorrer pelo universo da sedução. O ator está provando que merecia essa chance há tempos.

Sensação dos primeiros episódios, Paolla Oliveira reforça sua vocação para protagonista interpretando várias mulheres em uma só, como a garota de programa de luxo Danny Bond, ou apenas Denise. A atriz está esbanjando sensualidade em cenas extremamente eróticas. Mas é preciso ressaltar também que o apelo do público também foi muito resultado da bissexualidade da personagem, que tem uma namorada, mas também transa com homens e suas mulheres. E acaba se apaixonando por Marília, mulher de Cláudio, que vive um casamento decadente, sem diálogo, sem sexo, e está sendo brilhantemente interpretada por Maria Fernanda Cândido. É preciso todo um trabalho interior de composição para encarnar uma restauradora de arte, recatada pela educação em colégio de freiras, passou pelo trauma de perder um filho de 5 anos afogado na piscina de casa e, a partir daí, viu seu relacionamento com o marido literalmente naufragar. Justiça seja feita, Maria Fernanda merece destaque por mostrar com serenidade a batalha que sua personagem trava consigo mesma na tentativa de desabrochar para uma nova realidade.

Da mesma forma vale destacar a interpretação de Selma Egrei, defendendo com elegância os desejos da professora Norma, uma mulher na terceira idade casada com um ex-delegado, Dionísio (Perfeito Fortuna), e cortejada por um rapaz bem mais jovem do que ela. Assim como o trabalho de João Miguel como Hugo, um engenheiro viciado em sexo que não concorda com as falcatruas de seu cunhado Cláudio, busca refúgio para suas frustrações na bebida e ainda descobre que é estéril e, portanto, não é o pai biológico do filho que tem com sua mulher, Norma, a cirurgiã plástica que faz de tudo para ascender profissionalmente, vivida por Adriana Esteves. O ator, que recentemente protagonizou a série “A Teia” como o delegado Jorge Macedo, também vem mergulhando fundo e com talento no drama pessoal desse novo trabalho.

O roteiro de Euclydes Marinho, escrito em parceria com Denise Bandeira, Ângela Carneiro e Márcia Prates, é impecável. Em muitas cenas, as personagens não precisam nem de texto: elas falam através apenas do gestual. Feito conseguido também graças ao trabalho de direção, dividida por episódios entre Fernando Meirelles, Paulo Morelli, Luciano Moura e Rodrigo Meirelles. E o resultado final conta ainda com o excelente trabalho de direção de arte, fotografia e iluminação.

Agora é aguardar os próximos capítulos dessa última semana...