segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Análise: Em meio a tramas perdidas em gênero, número e grau, “Jóia Rara” transformou a novela das seis no verdadeiro produto nobre da teledramaturgia da Globo


Não é novidade uma novela das seis superar de longe em qualidade uma trama das nove, com larga folga de vantagem em termos de texto, figurino, produção e direção de arte. Aconteceu com “Lado a Lado”, exibida ano passado, e que inclusive foi indicada ao prêmio Emmy de 2012, ao lado de “Avenida Brasil”. É o que se constata novamente atualmente com “Jóia Rara” e “Amor à Vida”.

Em termos de teledramaturgia, a história escrita por Duca Rachid e Thelma Guedes é, no conjunto da obra, superior à de Walcyr Carrasco. Em “Jóia Rara”, o desejo de vingança de Sílvia, brilhantemente interpretada por  Nathália Dill, não precisou ficar oculto por muito tempo atrás de um suspense, já que tinha uma justificativa bem construída, bem elaborada e quase convincente. Até mesmo a questão do budismo não chega a soar como algo religiosamente apelativo, servindo para costurar de forma pueril o romance do casal romântico formado por Bianca Bin e Bruno Gagliasso. E Zé de Abreu e a pequena Mel Maia, contracenando novamente, dessa vez como avô e neta, em nada lembram Nilo do Lixão e a rebelde Rita. É um produto com texto meticuloso, direção atenta e caracterização primorosa.

O mesmo não se pode dizer em relação a “Amor à Vida” e nem à nova novela das sete, “Além do Horizonte”, de Carlos Gregório e Marcos Bernstein. A questão aí não é nem apontar como possível falha a ideia dos autores de apostarem num clima de aventura em um horário tradicionalmente marcado pelo humor. Até porque, a “ideia” não é tão original assim. “Morde e Assopra”, de 2011, coincidentemente também de autoria de Walcyr Carrasco, também ousou no clima de aventura e ação que envolvia até mesmo a presença de dinossauros em cena. Não fosse Cássia Kiss Magro com sua sofrida Dulce, a novela continuaria no esquecimento em termos de folhetim, com referências apenas a cenas com imagens computadorizadas de criaturas pré-históricas e, felizmente, sem falas.

Em “Além do Horizonte”, imagens da floresta amazônica não são suficientes para segurar o gênero aventura, já que os diálogos são pontualmente construídos para tentar combinar com o cenário. Falta o espírito da floresta encarnar no texto. Ações convincentes inexistem. O triângulo romântico também não convence. Juliana Paiva deveria ter dado um tempo pós-“Malhação” antes de voltar à cena com o mesmo visual e drama da personagem semelhante. Antes ela também era uma jovem que vivia livre, leve e solta longe dos pais. Thiago Rodrigues é sempre o mesmo em qualquer personagem, com o mesmo arquear de sobrancelhas na hora do drama e na hora do humor. E o novato Vinícius Tardio, bom esse nem merece crítica, já que está contracenando com atores tão iniciantes quanto ele.

E, ainda comparando “Jóia Rara” com as demais novelas da Globo, apesar de ela também ter passado por seu período de provação inicial, é preciso citar que a nova temporada de “Malhação”, que, além de há muito não merecer mais levar esse nome e ter vindo com a promessa de falar sobre os novos e modernos modelos de formação familiar, está completamente perdida em tramas soltas de adolescentes confusos e adultos igualmente perdidos.

Voltando à declaração inicial, a novela das seis é a que mais se ajusta a ser considerada do horário nobre. Até porque, uma falha é usualmente cometida por um vício da mídia em considerar apenas a novela das nove da Rede Globo como pertencente ao horário nobre. Segundo o Wikipédia, “no Brasil, considera-se como Horário Nobre toda a programação que está entre as 18h e 00h, podendo se estender até à 1h, tendo como ‘pico’ entre 20h e 23h”. Portanto, na minha opinião, novela nobre é mesmo “Jóia Rara”.



Mais "Jóia Rara" em:
http://tvindependentebyelenacorrea.blogspot.com.br/2013/09/joia-rara-novela-mostra-que-uniao-de.html 

Mais "Além do Horizonte" em: 
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