domingo, 7 de julho de 2013

“Bates Motel”: Série convence ao traçar o perfil psicologicamente conturbado da juventude do serial killer de “Psicose” e sua estranha relação com a mãe, uma múmia no clássico de Alfred Hitchcock no cinema

Para quem assistiu a “Psicose”, de Alfred Hitchcock (será que há quem não viu essa obra do mestre do suspense?), “Bates Motel”, que estreou no Universal Channel nessa quinta-feira (4), é uma espécie de “volta para o passado”. Sem perder o clima misterioso casual que vai num crescendo, a série mostra a adolescência psicologicamente conturbada de Norman Bates, protagonista do filme dos anos 60 que se revelou ser um dos serial killer mais famosos do cinema. O ator Freddie Highmore, de “A Fábrica de Chocolates” e que agora faz Norman jovem, logo no início já mostrou ter mergulhado de cabeça no suspense psicológico que pontua o personagem. Um trabalho mais difícil, pois ele está fazendo o antes nos tempos atuais de um depois de época. Highmore, no entanto, revela nos olhares e movimentos os traços psicóticos que marcarão o esquizofrênico personagem na fase adulta.

Citada durante quase todo o filme sem nunca aparecer, a não ser na forma de uma morta empalhada, a mãe de Norman, Norma, ganha destaque na série sendo interpretada por Vera Farmiga. Afinal, é a relação mãe e filho que pontua toda a história. “Mãe, você é tudo para mim, todo meu eu. É como se tivesse um cordão entre nós. Sempre fomos nós. Nós somos um do outro”, diz o jovem de 17 anos, misturando citações de Orson Wells.

O cenário e as tomadas fiéis à obra do cinema valorizam o produto feito para televisão. O argumento que leva ao início da manifestação da psicopatia de Norman também é convincente: o jovem flagra a mãe matando um homem com várias facadas após ter sido estuprada pelo intruso no motel onde ela e o filho foram tentar recomeçar a vida após ela ter ficado viúva.

Os detalhes fazem a diferença. O corpo do homem assassinado por Norma é levado para a banheira com cortina de plástico no mesmo quarto onde, no futuro, como foi mostrado no filme, Marion Crane (Janet Leigh) é apunhalada na cena antológica do suspense. A estranha relação entre mãe e filho também é acentuada pelos nomes dos dois questionada por um policial: “Muitos filhos levam o nome do pai”, justifica Norma. E a localização do motel numa área abandonada é explicada pela construção de uma estrada principal que deslocou toda a movimentação para o lado oposto da cidade.

Há ainda o misterioso caderno encontrado por Norman embaixo do carpete com anotações e desenhos conturbados de uma mulher sendo presa, abusada sexualmente, amortecida por drogas... E a frase que reúne uma justificativa aparentemente simplista, mas que remete ao que levou Norman a não aceitar a morte de Norma: “Enquanto estivermos juntos nada vai acontecer, não é Norman?”, diz a mãe. “Claro”, responde o filho.

Com produção executiva de Carlton Cuse, o mesmo de “Lost”, e de Kerry Ehrin, de “Friday Night Lights”, “Bates Motel”, se mantiver a linha obscura que permeia a relação neurótica de mãe e filho, ambos com uma psique conturbada mostrada no primeiro episódio, promete ser uma das melhores séries do ano.